Como seria viver do que poderíamos ter sido, tido, visto ou vivido? Como seria ser refém da imaginação e da falsa sensação?
Dê uma pausa para o café que te esquenta as mãos com a xícara aquecida, aproveite a fumaça que aconchega o rosto, esqueça por uns minutos esses planejamentos que ecoam e tiram o sono pela infindável madrugada e hoje vamos de poesia, porque sempre há espaço para ela, ou… pelo menos deveria ter…
O céu chorava
Tenho saudades Saudades de coisas que jamais saberei, porque o passado não se importou em perguntar
Tenho saudades do que não vi, do que não viverei e nem vivi, porque o passado não se importou em cuidar Tenho saudades
Ah… Ouço a voz do passado dizendo: “Presente é presente e o tesouro a mim pertence!” “É cristal indestrutível!” Só mantenho em minha mente tais roteiros indecentes, que o passado ousou trilhar
Sei da grama entre os dedos e que quando o ceú chorava, da terra molhada um perfume embriagava o olfato dos inocentes
Sei das marcas, das pegadas, do pés do passado nas areias beijadas pelas ondas a bailar Mares que gritavam enquanto a lua se escondia, e no escuro os trovões ardiam, desesperados a tentar iluminar Eu sei que o céu chorava
Sei que quando o sol voltava, girassóis lentamente valsavam sob cores que não o gris Mas sei que o céu chorava
Sei que o sol se esforçava para brilhar para o passado, para quem não se importou com a história, para quem me deixou sem memórias
Sei que mães pranteavam e famílias se banhavam em um puro escarlate de morte Morte que aquecia o passado, que roubava a beleza de quadros para vestir-se com mantos de dor
Tenho saudades do som que com os lábios meu avô fazia, mostrando-me o que um dia, ele houvera escutado Sons outrora enjaulados Canários encarcerados sem espaço para voar Tenho saudades
Como posso ter saudades daquilo que não vi? Do que não conheci, senti, ouvi? Só sei que tenho saudades
Sei que quando o passado ignora é o presente que agora chora por um futuro incerto sem cores, sem sons e nem sabores, nem mágicas formas nas nuvens
Só vejo corações partidos Leio páginas em branco de um livro que o passado recusou-se a escrever
Autor: Geison Paulo